quinta-feira, 20 de março de 2008

Fica Comigo.

Estou ficando velho. Neste ano completo 30 anos e parece que foi ontem que brincava na creche em que minha mãe era proprietária. Foi ontem que de forma tímida pedi para namorar minha primeira namorada. Nervoso, gago e tremendo, interpelei os pais da Andréia de apenas 9 anos pedindo autorização para namorá-la. Tinha 10 anos. Vinte anos após, estou aqui. Sem namorada e a Andréia o tempo levou. Hoje estou saindo com alguém. Parece-me uma pessoa muito especial. Com o tempo talvez escreva sobre isto, mas o interessante é que peguei-me a cantarolar uma música antiga que fez sucesso em alguma novela que minha memória teima em ocultar. Sei que o conjunto musical (naquele tempo não era chamada de banda) era o Placa Luminosa. Incrível como a mente esquece nome de pessoas, fatos, ensinamentos, mas as músicas parecem ter o poder de mesmo após anos ficar registradas.
Parei. Cantei. E vi o quanto o tempo passou. Penso estar velho quando muitos me dizem ser jovem. Quando fico sabendo da morte de alguém, por exemplo, aos 60 anos, alguma voz sempre lamenta: "-Morreu tão jovem."
Pois é. Biologicamente falando, afinal quando somos considerados velhos? Juridicamente somos considerados idosos a partir dos 60 anos. Será? Sou um meio-idoso? O Estatuto da Criança e do Adolescente afirma ser adolescente aquela pessoa dos 12 aos 18. Sou um meio-adulto?
Não sei dizer. Estou amadurecido. Vejo pelos meus atos e pensamentos. Meu corpo já não tem a mesma desenvoltura no futebol, por exemplo. A barriga não é mais "tanquinho" se rendendo a de um bebedor eventual de cerveja. Embora estes indícios de minha velhice, quando olho no espelho fico feliz com o que vejo. Meus poucos cabelos brancos começam a se rebelar contra todos aqueles fios negros. Parecem dizer: "-Um dia seremos maioria." E será verdade. No entanto, não temo. Não que eu seja um Richard Gere, mas a idéia de cabelos grisalhos não me aterroriza.
E assim, seguirei a vida até que o Criador entenda que deve me chamar. Eu, sorrindo, irei, cantando músicas que embalaram minha história. Como a do Placa Luminosa.
Fica Comigo.
Amo você, fica comigo
O seu jeito de ser
Me pegou sem notar
Sem querer...
Quero você
Mas deixa comigo
Dá o teu coração
Te devolvo em dobro
A paixão...
Já provei da maçã
E é você quem eu quero
Tudo bem sou teu fã
Eu confesso te espero amanhã...
O nosso amor é lindo!
Tão lindo!
Nada pode ser mais lindo
Do que o nosso amor...(2x)
Amo você, fica comigo
Uma frase, um papel
Uma noite, um motel
Só nós dois...
Com você, minhas cartas
Tão todas na mesa
Eu não posso, não quero
Nenhuma surpresa prá nós...
O nosso amor é lindo!
Tão lindo!
Nada pode ser mais lindo
Do que o nosso amor...
O nosso amor é lindo!
Prá você que eu fiz
Essa canção
Dá prá mim todo teu coração
Que eu devolvo em dobro
A paixão...(3x)
Prá você que eu fiz
Essa canção
Dá prá mim todo seu coração
Que eu devolvo em dobro
A paixão...(2x)

quarta-feira, 19 de março de 2008

Uma oração pelo mundo.

Magda Moraes é uma grande amiga. Eu tenho a honra de ter sua amizade. Certa vez, passamos juntos - eu mais intensamente do que ela -, por uma situação em que nossa crença no ser humano foi abalada. A Magda traduziu em texto nossa perplexidade. De vez em quando eu releio o texto abaixo. Divido com meus leitores.
"Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa paz".
Não sou religiosa, muito menos praticante, o que talvez seja uma falta grave com Deus. Porém, faço minhas orações diariamente, creio em Deus acima de todas as coisas, confio Nele acima de tudo. Todos os dias peço ao Criador forças para alcançar meus objetivos pessoais, paciência para lidar com as adversidades, sabedoria para evitar injustiças, bondade para ajudar no que eu puder, firmeza nas minhas decisões, serenidade para tratar com minha família e meus amigos, coragem para enfrentar meus inimigos, perspicácia para não cair em ciladas. Todos os dias peço perdão pelos meus erros, que são inúmeros, e suplico pela força da minha intuição. Acredito muito na força de vontade e no poder da fé. Creio que Deus nos abre muitas portas e que podemos auxiliar a abrir as portas para nossos semelhantes: isso se chama caridade. Caridade é doação, doação de tempo, de sentimento, de alimentos, de roupas, de afeto, de atenção, de interesse por quem realmente precisa de ajuda. Nada me custa doar-me um pouco; pelo contrário, sinto-me muito bem podendo ajudar, estendendo a minha mão, usando o dom da palavra para reverter situações e amenizar dores alheias. Mas confesso: quase perdi minha fé ao reconhecer tão próximo de mim gente que, infelizmente, esqueceu o que é ser gente. Vi gente materialista e insensível, incapaz de respeitar os limites entre o certo e o errado; gente que mira, atira e captura com a mesma mão que afaga, que condena com a mesma boca que sorri, que cospe no chão que lustrou. Vi gente que não valoriza as virtudes humanas, que não consegue distinguir entre uma necessidade e um abuso, que não diferencia bondade de tolice. Vi gente que não entende nada de nada, que confunde pouco com tudo, que crê no que imagina, que fantasia ser quem não é. Vi gente armada com flechas de palavras doces e cativantes que escondem um poderoso veneno capaz de aniquilar o mais puro dos sentimentos. Vi gente que faz tudo isso, talvez sem saber o que está fazendo.
Nunca vivi num mundo cor-de-rosa ou de faz-de-conta, sempre tive noção da crueldade do mundo e da corrupção dos homens, mas ainda acreditava no poder do coração. No entanto, mesmo abalada emocionalmente, agradeço a Deus por ter colocado no meu caminho toda essa gente, e por ter me dado condições suficientes para não me corromper. Agradeço, pois pude fazer a minha parte, o início da parte que me cabe fazer. Humildemente peço perdão a Deus se, porventura, estiver sendo eu a injusta, ingrata e desumana e essa gente os puros de coração. Peço a Deus também que semeie naqueles corações o amor, o afeto, a fraternidade, o respeito, a amizade, a gratidão, a sabedoria, a honestidade, a paciência. Que Deus plante vida naquelas mentes, que lhes dê saúde e vitalidade para que sempre possam trabalhar, que nunca lhes falte um ombro amigo e um palavra de consolo, e que eles aprendam a orar.
Senhor, perdoai toda essa gente!
Magda Moraes.

Desejo, de Victor Hugo.

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer.
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar ".

Guerreiras e heróis, por Martha Medeiros.

Não estou assistindo ao Big Brother, mas vi a chamada para o programa dia desses. Mostrava uma moça, uma das participantes, olhando pra câmera e dizendo com ar dramático: 'Eu sou uma guerreira!!'. É de dar nos nervos. Guerreira por quê? Porque está participando de um programa de televisão que vai levá-la, no mínimo, à capa da Playboy? Guerreira porque foi escolhida entre milhões de candidatos para ficar comendo do bom e do melhor e jogando conversa fora com um monte de desocupados? As pessoas não têm culpa de serem burras, mas mereciam uma surra por se levarem tão a sério.
O Big Brother é um programa de tevê como outro qualquer e não defendo sua extinção, mas é preciso ficar atento a certos exageros. Por exemplo, é um exagero condenar o jornalista Pedro Bial por apresentá-lo, o cara está trabalhando, só isso. Por outro lado, ele perde a noção quando chama aquele pessoal de 'nossos heróis'. É o mesmo caso do 'guerreira': a troco de que usar essas expressões graves e superlativas para falar de uma brincadeira televisiva onde todos sairão ganhando? O que irrita no Big Brother, mais do que sua inutilidade, é o fato de os participantes serem tratados como vítimas. Qual é? Circula pela internet um arquivo PPS que, pela primeira vez na história dos PPS, me tocou. Ele mostra heróis de verdade: homens e mulheres que abrem mão do conforto de suas casas para fazer trabalho voluntário em aldeias na África e em clínicas móveis no Líbano. São pessoas que oferecem ajuda humanitária internacional através do programa Médicos sem Fronteiras e que não medem esforços para dar amparo e assistência a moradores de ruas e demais necessitados, seja no fim do mundo e ou aqui mesmo nas ruas do Brasil. Isso é heróico, isso é ser guerreiro. Quantos de nós, bem nascidos e bem criados, abrem mão de seus pequenos luxos para ajudar quem precisa? Por isso, se você é da turma que liga pro Big Brother pra votar em paredões, pense melhor antes de erguer o telefone. Direcione sua ligação para um programa assistencial, gaste seu dinheiro com algo que realmente seja útil. Assista ao BBB, divirta-se e dê audiência, não há nada de errado com isso, mas cada vez que tiver o impulso de ligar pra tirar fulano ou sicrana do programa, se toque: tem gente mais necessitada precisando da sua ligação. O site do Unicef traz uma lista de entidades que você pode colaborar dando apenas um telefonema. Quer dar uma espiadinha? Então espie o que está acontecendo à nossa volta.

O colega de escritório, por David Coimbra.

Neca era jovem e bonita. Isac era jovem e afoito. Namoravam já há dois anos, quando ele decidiu que queria viver mais aventuras, conhecer outras mulheres, ter novas paixões. Que queria sexo casual, em resumo.
Acabaram se separando.
Neca sofria, até porque os dois trabalhavam juntos, viam-se todos os dias, e Isac não parecia se importar com a separação.
Aí uma noite aconteceu algo que transformou suas vidas. Que virou tudo de pernas para o ar.
Neca foi a um bar perto de onde trabalhava e lá encontrou um outro colega, o Ricão. Esse Ricão era conhecido no escritório por se dar bem com as mulheres. Mais até: diziam que ele fazia "de tudo..." com elas. De tudo... assim, com reticências.
Ele e Neca conversaram por alguns minutos, beberam algumas doses e saíram do bar juntos. Ricão ofereceu carona a ela, e ela aceitou. Não aconteceu nada entre eles, Ricão apenas a deixou em casa. Só que Isac, o ex-namorado, os viu juntos. Foi uma coincidência. Estava passando pela rua de carro e flagrou-os saindo do bar.
A visão o abalou. Passou a noite pensando naquilo. No dia seguinte, a primeira coisa que Isac fez foi abordá-la. Sua intenção era ser discreto, era não dar a impressão de que sentia ciúme. Mas não conseguiu — era afoito. Foi logo confessando que a tinha visto com o Ricão e quis saber se havia acontecido algo. Neca, percebendo a oportunidade que lhe aparecia, respondeu, tão-somente:
— Não é da tua conta.
E foi-se embora. Para quê! Isac ficou desesperado. Imaginava o Ricão fazendo de tudo... com ela. De tudo...! E se angustiava. "Ela vai nos comparar", pensava. "E aí estou ralado. Porque eu não fiz de tudo... com ela? Oh, como eu queria ter feito de tudo... com ela".
À noite, Isac ligou para a Neca. Implorou para saber o que havia acontecido entre ela e o Ricão. E ela:
—Não te interessa.
Ele queria morrer. Não podia suportar a idéia de que o Ricão tivesse feito de tudo... com sua ex-namorada. Subitamente, o amor que sentia por ela retornou. Isac sentiu que precisava dela, que ela era a mulher da sua vida, que queria passar a existência ao lado dela. Passou a noite em claro.
De manhã, não esperou para encontrá-la no escritório. Cedo, antes do café, vestiu-se e voou para a casa dela. Bateu à porta, ansioso. Quando ela abriu, ele, jogou-se aos pés dela, olhos marejados. Agarrou seus tornozelos macios, beijou seus chinelos e urrou:
— Eu te amo! TE AMO!!! Faço tudo por ti!!! Tudo! Pede o que quiser!!! Mas me responde! Pelo amor de Deus! Por tudo o que é sagrado! Me responde: O que o Ricão fez contigo??? O que ele fez contigo???
Ela sorriu, cheia de malícia, e falou a frase mais terrível que Isac ouviu em toda a sua vida:
—De tudo...
E fechou a porta, para morrer de rir.
Fonte: Blog do David Coimbra, 18 de março de 2008.

terça-feira, 18 de março de 2008

Se não fosse para cometer erros, eu não tomaria decisões.

Quem nunca cometeu erros? Quem nunca cometeu um vício de formação da vontade, tendo uma noção falsa sobre alguma coisa ou sobre uma pessoa? Por óbvio, todos conhecem a expressão: “errar é humano”. No entanto, a frase completa é: “errar é humano, persistir no erro é burrice”. Confesso que já cometi inúmeros erros, sou humano. Confesso que já persisti no erro por diversas vezes, fui burro. Por muito tempo neguei meus erros tentando de forma utópica apagar as escolhas erradas que tomei pelo caminho. Certa vez deparei-me com a frase de Rabindranath Tagore: “Se fechares a porta a todos os erros, a verdade ficará na rua”. Não é preciso ser gênio para concluir que Tagore implicitamente afirma que você somente será digno da verdade se assumir seus próprios erros.
Ultimamente estou sendo questionado de erros cometidos no passado e que de forma persistente sempre os cometerei - segundo a visão de alguns. Ou seja: quem me questiona, considera-me um burro, não um ser humano. Embora eu reconheça meus erros como aprendizagem não sou burro em repetir os mesmos erros se há tantos erros novos a serem cometidos. Perceba que não estou dizendo que não cometerei erros, mas afirmando de forma enfática que não repetirei os erros antigos, velhos, anciãos. Aos que me criticam eu devo gritar: “–Se fiz descobertas foram por causa de meus erros”. Eu tenho que tomar decisões. Nem sempre minhas decisões foram as mais corretas, mas no momento em que as tomei, pareciam ser. Eu aprendi com meus erros. E estou sendo mais sábio, pois aprendo com os erros dos outros. Com isto evito que o erro seja atribuído a mim.
Com que audácia meros mortais – repletos de erros – se insurgem contra os meus. Sejam criativos! Errem! Eu quero aprender com seus erros. E se vocês estiverem próximos de errar, não os impedirei. Cometa-os. Não estarei sendo desleal contigo, meu amigo e, muito menos, traiçoeiro, com você, meu inimigo. Você terá a oportunidade de aprender, evoluir. Como é amargo saber que cometi diversos erros e por muitas vezes os escondi através de mentiras ou repetindo-os a ponto de torná-los sinônimos de meu caráter ou verdades fictícias. Seguirei tentando acertar e cometendo novos erros, e não quero saber se alguém não crê em minhas intenções. Estão errados. Humanos ou burros, estão equivocados. Meus erros são reflexos de minhas inúmeras tentativas de ser feliz e quando posso ser feliz, surgem testemunhas de cada passo mal dado que dei. Se vocês que me criticam não estão isentos de erros, por óbvio, não se aventuram em tentar acertar.
Chega de ficar quebrando a cara com os velhos erros de sempre. Quero cometer erros novos, passar por apertos diferentes, experimentar situações desconhecidas, sair da rotina e do lugar comum. Este ano eu preciso crescer. Chega de saber a saída e ficar parado na porta, ensaiando os passos sem nunca entrar na estrada, esperando que me venha o que eu mais preciso encontrar. Este ano, se eu tiver que sofrer será por sofrimentos reais, nunca mais por males imaginários, preocupado com coisas que jamais acontecerão. Chega de planejar o futuro e tropeçar no presente. Chega de pensar demais e fazer de menos. Chega de pensar de um jeito e fazer de outro. Chega de o corpo dizer sim e a cabeça, não. Chega desses intermináveis conflitos que me fazem adiar para nunca a minha decisão. Este ano eu vou viver.